O som de King Krule
- Renan Vinicius
- 16 de nov. de 2016
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de out. de 2020
Em um cenário musical contemporâneo onde novos gêneros e estilos surgem a cada dia, vários talentos únicos e repletos de singularidade muitas das vezes são, injustamente, esnobados e deixados de lado. Talvez por uma seletividade natural da indústria musical ou pela falta de uma maior visibilidade em um campo onde os grandes nomes imperam, o fato é que a renovação dos gêneros e a busca pelo novo, por mais incentivada que pareça, quando não peca pela falta de oportunidade acaba pecando pelo exagero de informação. Nesse contexto cabe à internet e às mídias digitais o papel de principais divulgadores, ferramentas indispensáveis para os artistas da segunda década do século. Existem vários exemplos recentes de cantores que ganharam maior destaque midiático a partir de uma notória performance na rede, entre eles o rapper Soulja Boy, o grupo Boyce Avenue, e a cantora nacional Clarice Falcão. Não diferente, o britânico de vinte e dois anos, Archy Marshall ganhou a atenção dos críticos musicais e de um público específico a partir da disponibilização de seus primeiros EP's (Out Getting Ribs e U.F.O.W.A.V.E) em plataformas digitais ainda sob o nome de Zoo Kid no ano de 2010. O dom de Archy era nítido, atuando como cantor além de compositor, produtor e músico, foi então no ano seguinte, em 2011, que King Krule surgiu, sob novas influências e a repaginada musical exigida dos novos tempos, um pseudônimo inspirado no jazz, no punk e no darkwave, cujo nome foi trazido graças ao filme King Creole estrelado por Elvis Presley na década de cinquenta.

O primeiro trabalho já sob o novo e definitivo nome veio em forma de um EP autointitulado contendo cinco músicas, lançado em 2012, as faixas do King Krule EP conectam entre si através de uma melodia sistêmica de post-punk e indie rock. A primeira faixa 363N36 não possui vocais e apresenta ao ouvinte o ritmo e a sonoridade característica que será levada ao longo do disco. Lead Existence, a faixa mais curta do EP, recompensa a sua brevidade com qualidade, com uma letra existencialista e melancólica (recorrente em suas composições), encaixa-se com dignidade como antecessora de The Noose of Jah City, última faixa e também mais longa do disco. Após a repercussão positiva do seu trabalho, King Krule chegou a ser nomeado em uma premiação musical da rádio BBC em dezembro do mesmo ano, o que o incentivou no lançamento do seu primeiro álbum de estúdio em 2013.
Uma das marcas do jovem cantor, e talvez seu maior diferencial, é a sua voz grave e acentuada, pesada sob o sotaque britânico. Uma voz irreverente que recai áspera em meio aos seus versos e composições, e que certas vezes causa estranhamento, mas ao acostumar o ouvido, a sensação acaba se tornando o atrativo principal. No comando dos vocais e da guitarra, King Krule lançou seu álbum de estreia 6 Feet Beneath the Moon em agosto de 2013 contendo catorze faixas, algumas já divulgadas previamente em seus EP's. Tendo influência de The Libertines, Pixies e Gene Vincent, e sendo comparado inclusive ao eterno Morrissey, o álbum agradou a maioria e se tornou seu principal trabalho no ramo da música até então. A faixa principal Easy, Easy foi o primeiro single do disco, com uma letra fácil e batidas harmoniosas, apesar de não ser a faixa mais marcante, é claramente uma das mais acessíveis ao grande público.
Videoclipe de Easy Easy
Variando entre os estilos, Baby Blue e A Lizard State são faixas que tem por essência o jazz e o blues, nas quais através de um eu-lírico reflexivo, remontam uma áurea clássica para um álbum tão moderno. Will I Come junto de Ocean Bed são faixas sintetizadas, com instrumentais ressaltados, dão à conjuntura do disco um ar alternativo das músicas indie. Com batidas mais repetitivas e o tom específico do hip hop, Border Line e Bathed in Grey beiram a ousadia das músicas de resistência, enevoadas pelo timbre mais melódico de King Krule. Sucesso de críticas no Reino Unido, o jovem artista saiu em turnê em 2014 para a divulgação do álbum tanto pelos países da Europa quanto nos Estados Unidos, levando para os palcos não só canções do disco de estúdio, mas também de seus primeiros trabalhos como Zoo Kid.
Inovador, contido e multifacetado, King Krule molda sua carreira com inteligencia e talento, estabelecendo de certa forma sua própria marca no mundo da música. Com pouca e idade e um futuro inteiro pela frente, o jovem cantor mostra que não terá problemas em se reinventar e se adaptar, seja no ritmo de suas músicas ou nas composições de suas letras. Após o lançamento de 6 Feet Beneath The Moon, algumas obras de cunho pessoal foram divulgadas sem relação com projetos vindouros, mas de mesma qualidade e excentricidade registradas pelo artista. Há, pelo menos, neste caso, a certeza de que não importa o tempo necessário para um novo álbum, sob qualquer pseudônimo, a receita para uma música moderna e singular vai estar sempre lá, assegurada.

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