Análise: The Disappearance of Eleanor Rigby.
- Renan Vinicius
- 26 de set. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de out. de 2020
Ele. Ela. Eles. A história dramática do diretor e roteirista estreante Ned Benson é um misto de emoções. Composto por três filmes que na verdade são um, Os Dois Lados do Amor (título brasileiro) utiliza do ponto de vista dos personagens para contar seu enredo, uma modalidade cinematográfica ousada e encarada sem medo por Benson, no qual a faz de forma deveras competente. Enquanto Ele (Him, no original) é o longa que segue o protagonista masculino Conor Ludlow e seu círculo de amizades no trabalho como chef de cozinha, Ela (Her) acompanha Eleanor Rigby e sua tentativa de superar um drama do passado com a ajuda da família. O ponto de ligação está justamente no relacionamento perdido entre Conor e Eleanor, "Ele" e "Ela" já foram antes um casal, e assim, como marido e mulher únem-se em um relacionamento, surgiu Eles (Them), o terceiro filme feito exclusivamente para o ramo comercial no qual adapta os dois longas anteriores em uma verdadeira obra prima de cerca de duas horas de duração. A história é a mesma, mas em cada experiência temos a oportunidade de compreender cada lado dos personagens, seus motivos e decisões, criando uma empatia entre os gêneros muito bem administrada. Uma direção digna de destaque, com roteiro sensível e delicado, um trabalho único daqueles cineastas novos que surgem chamando atenção e mostrando ao que vieram.

Com a linha temporal divida entre o presente e os constantes flashbacks, a história diverge o relacioamento terno e apaixonado do passado de um casamento falido e sem esperanças da atualidade. No hoje, vemos uma dupla quebrada, depressiva. A cena inicial nos mostra Eleanor (aqui interpretada belíssimamente por Jessica Chastain) em uma tentativa de suícidio ao jogar-se de uma ponte, e a luta da irmã e de seus pais em manterem sua mente íntegra. Do outro lado, impedido de ver sua ainda amada, Conor (papel do brilhante James McAvoy) tenta continuar com sua vida normal em seu trabalho no restaurante do amigo e ouvindo os conselhos do pai. Já no passado nos é apresentado um par romântico nos seus primeiros encontros, o delírio sadio e irresponsável dos amantes de primeira viagem, o primeiro beijo, a primeira noite juntos. Fica difícil imaginar em que ponto tal história transformou-se na relutância do presente. E é exatamente em cima desse questionamento que os fatos do longa se desenrolam. O drama segue na repulsa de Eleanor em encarar os fantasmas do passado e de como o tempo pode ser lento ao curar as cicatrizes da vida, sua decisão de manter Conor longe permeia o filme até a inevitabilidade do encontro dos dois.
Balancear os dois atores é uma tarefa difícil, mas talvez Jéssica Chastain se comporte um pouco a frente de McAvoy com sua atuação convincente cheia de sentimento. Seu núcleo também ganha reforço com a presença da atriz indicada ao Oscar e vencedora do grammy Viola Davis, interpretando Friedman sua professora, além do papel de William Hurt como Julian Rigby, pai de Eleanor. O núcleo de James é um tanto desfavorecido, sua amizade com o personagem de Bill Harder não cativa, assim como o possível novo interesse amoroso de Conor que surge apenas para realçar determinada cena mais para o fim do filme. O ponto alto se dá apenas na luta não-determinista do personagem de se livrar do mesmo destino que o pai teve, rendendo bons diálogos e atuações sinceras. O clímax do filme é um verdadeiro espetáculo de sentimentos, a discussão e a reaproximação de Conor e Eleanor com a superação do trauma do passado revelado sutilmente com as pistas dadas durante as cenas é capaz de fazer o mais frio do telespectador vir encher os olhos d'água. Uma das experiências mais positivas que tive proporcionada pela sétima arte.

A direção de arte e fotografia também merece destaque. Quando dia, tudo é muito vívido, mas pastel, transparecendo a fragilidade emocional dos personagens. À noite, as luzes constantes da cidade e os enquadramentos dos protagonistas sob a penumbra, ressalta a solidão interna que acomete tanto Conor Ludlow quanto Eleanor Rigby. Com um final sugestivo, The Disappearence of Eleanor Rigby, mostra a maleabilidade e as múltiplas facetas de um relacionamento. Um drama montado nos pontos de vista de um casal, redigido com qualidade no primeiro trabalho do diretor Ned Benson. Uma entrada triunfal eu diria, Ned Benson, guardem esse nome para Oscars futuros.
NOTA: 9,0
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